“Podemos investir o que for. Não vai nos bastar. Inovação é colaboração”, diz Chefe de Tecnologia da IBM

Luis Fernando Liguori conta como se inspira nas startups e aposta na colaboração para inovar na gigante de tecnologia.

CTO da IBM, Luis Fernando Liguori faz a ponte, do ponto de vista tecnológico, entre o mercado e a companhia. Com visão do todo, entende o que os clientes precisam e o que a empresa pode oferecer, quais desenvolvimentos priorizar. Ele é triatleta e conta que tem o costume de anotar cada coisa que o incomoda, afinal, diz, qualquer detalhe pode ser uma chance de inovar.

Em entrevista ao Projeto Draft, Liguori afirma que a inovação vai muito além dos 6% do faturamento que a IBM investe anualmente em pesquisa. “O meu time tem mais potencial para ser disruptivo, estar na vanguarda, mas a inovação é parte do DNA da empresa e precisa permear todas as áreas”, diz, enfatizando a árdua tarefa de fazer com que cada um dos 400 mil funcionários da organização no mundo levante esta bandeira.

Segundo ele, seu maior desafio é colocar as pessoas no que ele chama de “zona de desconforto” e fazer com que elas se permitam inovar.

PARA INOVAR, HÁ QUE SE EMPODERAR

A inovação pode vir de todas as áreas, de um processo, uma abordagem ou uma metodologia”, diz, destacando a importância em manter a organização aberta para o mercado. “Podemos investir o que for, que não vai nos bastar. Inovação é colaboração. Temos que trabalhar com uma série de parceiros, startups, clientes, universidades e outras corporações para chegar lá”, diz. Para ajudar nessa missão, ele aponta que a IBM tem, no Brasil, um time focado em empreendedorismo e startups. O saldo das tarefas parece ser positivo, afinal, a companhia segue firme em uma imensa transformação que inclui a mudança de seu modelo de negócio.

Sem números exatos, Luis estima que a área de hardware da empresa, que respondia por mais de 80% do faturamento nos anos 1990, hoje representa pouco mais de 10% das receitas. A relação se inverteu e a maior parte do faturamento vem de serviços de sistemas cognitivos e de cloud (computação em nuvem), de coisas como banco de dados, internet das coisas (IoT), analytics e do Watson, o impressionante sistema de inteligência cognitiva da IBM capaz de aprender e usar o conhecimento adquirido em coisas que vão desde um chatbot até uma consultoria para que um oncologista descubra qual é o melhor tratamento para determinado paciente.

Nos últimos anos a IBM deixou de lado a ideia ultrapassada de proteger suas soluções internamente e se abriu para o mercado. Lançou em 2013 uma plataforma que oferece gratuitamente todos estes serviços. “Muita gente pensa que é brincadeira, que a IBM é cara, que só faz negócio com empresas grandes. Surpreendo muitas startups quando digo que eles podem entrar lá, desenhar serviços, colocar no mercado e só depois começar a pagar”, diz.

E dimensiona o seu desafio: “Há um oceano de empresas que não sabem o que a gente faz. Preciso mudar isso”

A ideia é oferecer uso gratuito das ferramentas até certo limite e cobrar só quando o cliente vai além disso. Para usar o banco de dados, por exemplo, há um volume máximo de armazenamento gratuito. Depois dele é necessário pagar, mas Luis garante que os valores estão longe de ser proibitivos.

Antes a IBM só colocava algo no mercado quando o produto já fosse uma Ferrari. Hoje vamos fazendo mudanças e atualizando diariamente. Sempre tem novidade na nossa plataforma.”

ELEMENTAR, WATSON

Uma das grandes apostas da IBM para inovar é o Watson, sistema inteligente capaz de fazer de qualquer pessoa um Sherlock Holmes, chegando a grandes conclusões. Com aplicação nas mais variadas áreas, a companhia enxerga uma ampla gama de possibilidades para a tecnologia, como a análise de perfis psicológicos a partir do texto que escreve. “Temos usado tecnologias assim em coaching e em nosso processo seletivo.” Segundo Luis, esta é a melhor maneira de acertar na escolha hoje em dia, em que credenciais importam menos do que o comportamento do profissional. Não há como escapar da verdade implacável revelada pelo Watson.

Luis conta que a IBM fez um concurso global focado em inteligência cognitiva. A ideia era que os funcionários formassem times e desenvolvessem projetos como se fossem startups para inovar dentro da companhia. “Tinha que pensar no problema, entender se era relevante, desenvolver uma solução e modelo de negócio. Foi essencial para a gente mostrar, aqui dentro, o que é a agilidade de uma empresa jovem e o poder de grupos multidisciplinares. É com a diferença que aprendemos.” Uma das iniciativas vencedoras foi justamente voltada à aplicação destas tecnologias na área de RH, com ferramentas como a análise de texto. A solução passou a ser aplicada globalmente pela IBM. “Os executivos ouvem o tempo todo que a tecnologia está mudando o mundo, mas queríamos mostrar isso na prática”, diz Luis.

Ele prossegue, e afirma que as possibilidades são imensas na área da saúde. “O Watson não é inteligência artificial, mas inteligência aumentada. Ele soma o que eu sei com o que você sabe e consegue lembrar de tudo depois. Um médico, por exemplo, pode ler 50 artigos científicos por ano. O Watson é capaz de ler todos e trazer insights para que o médico tome a decisão”, diz. Para ele, esta é uma possibilidade revolucionária para levar medicina avançada a um país pobre, por exemplo.

O executivo diz que o Watson pode ser usado em tudo que envolve dados e informações prévias. Às pessoas, destaca, cabe a tomada de decisão e as tarefas de interação e criação.

COLABORAR PARA INOVAR

A IBM é organização centenária que se empenha em permanecer atual, seguir em constante renovação. A empresa nasceu fabricante de máquinas agrícolas, transformou-se em produtora de hardware e, hoje, tem um modelo de negócio focado em serviços de cloud e inteligência cognitiva.

As possibilidades oferecidas pelo Watson também são amplamente usadas por startups que acessam a plataforma de serviços IBM. Luis admite que é impossível monitorar tudo, mas que eles se esforçam para se aproximar deste grupo e inovar em conjunto. “Antes, para colocar um serviço no ar, era preciso comprar o hardware, instalar, comprar a licença do software. Levava três meses. Agora dá para fazer em meia hora.”

Seguindo orientação da liderança global para se tornar mais ágil, a IBM se diz tolerante às falhas. “Nunca ninguém foi demitido daqui por cometer um erro com boa intenção. Ainda assim, as pessoas têm esse pensamento de que não podem errar. Não é verdade.”

O Watson certamente vai dar todo o apoio para que a IBM continue inovando, mas é como diz Liguori, são as pessoas que precisarão colocar a mão na massa para que as mudanças que querem ver no mundo realmente aconteçam.

Fonte: Senior

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